sexta-feira, 26 de abril de 2024

25 abril

Nasci 4 anos depois da revolução que fez cair a ditadura em Portugal.

Não vivi essa realidade, mas vi de perto o que a ditadura fez nas pessoas. A minha família é o reflexo do que era esperado: pessoas pouco mais que analfabetas, uma mulher submissa, recatada, sofrida e um homem que podia pôr e dispor de tudo a seu bel-prazer. O homem mandava e a mulher obedecia. As mulheres não tinham direitos, os pais e mais tarde os maridos eram os seus donos e, eram consideradas inferiores face aos homens. 

Foi isto que vi enquanto crescia e, cedo percebi que, se era para ser nestes moldes nunca me casaria. Não queria ser tratada como inferior, não queria ser subjugada e sofrer o que eu vi a minha mãe a sofrer. O meu pai, que teve 3 filhas, queria "livrar-se" da responsabilidade e casar-nos a todas, de preferência bem, pelo que quando me ouvia a dizer que não me iria casar, percebo agora que o preocupava imenso.

Apesar de tudo tive muita sorte. O meu destino seria estudar até ao 6º ano ou 9º ano e ir trabalhar para uma das muitas fábricas da área onde vivia. A minha irmã mais velha, não escapou desse destino, mas a minha irmã do meio fez um curso superior e quebrou o ciclo. Eu segui-lhe os passos e construí a minha liberdade. Fui estudar para 200 kms de casa e, aos 18 anos fui viver para longe dos meus pais. Sei que para o meu pai foi duro, perder o controlo da filha, mas para mim significou o mundo... Abriu-me horizontes e proporcionou-me vivências que de outro modo não teria.

No meu casamento, os nossos votos valem exatamente o mesmo e, somos iguais. Não aceito menos que isso. Ainda me recordo, quando a minha mãe ficou doente em 2022 (e antes disso, muitas vezes) e eu ia tratar dela aos fins de semana (vivo a 200 kms dos meus pais) e, fui várias vezes sozinha. Os meus pais perguntavam sempre se o meu marido não se "importava" e, se me "deixava" ir sozinha e ficar lá 2 noites!! 

Hoje em dia, quando vejo os jovens a admirar determinado partido político e, percebemos a quantidade de votos que teve nas últimas eleições, fico extremamente preocupada. Esta mudança de mentalidade está a ocorrer tão devagar e, mesmo após 50 anos do 25 de abril, as mulheres ainda têm que lutar por tantas coisas que para um homem são adquiridas... Muito facilmente voltamos ao tempo em que as mulheres não tinham direitos nenhuns...

Para a minha filha: Nunca penses que a tua felicidade apenas será proporcionada por um homem. Para aceitares que um homem faça parte da tua vida, ele tem que trazer valor acrescentado e, realmente melhorar a tua vida, se não o fizer, não aceites. Espero que o meu exemplo te inspire a nunca te contentares com migalhas, seja de quem for. 

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